Este trabalho constitui-se em um relato de experiência vivificado na turma de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos da escola Nossa Senhora dos Navegantes, situada na comunidade ribeirinha do mesmo nome, no meio rural do Município de Belém, na Amazônia brasileira. Na referida turma as comidas ribeirinhas e emblemáticas além de funcionarem como tema gerador dos processos de leitura e escrita da palavra e do mundo, provocam nos sujeitos da turma de alfabetização reflexões sobre a importância dessas comidas na sobrevivência material e simbólica da comunidade, funcionando como marcadores e linguagens de suas identidades ribeirinhas e amazônidas. São fontes principais de alimentação e de geração de renda. Trazem em sua matriz formativa, a valorização da cultura alimentar local e suas comensalidades. Propõem valorizar e recontar afetividades a partir da alimentação, numa forte iniciativa de demarcação de identidade regional e de saberes territoriais com histórias, memórias e afetos que falam do cotidiano da comunidade. É um processo de alfabetização que se expressa a partir da cultura alimentar com amor. Esse sentimento aguça a humildade em busca de superação do egoísmo, das desigualdades e dos preconceitos. Na educação, o amor é fundamental para que todos os homens e mulheres, seres inacabados e em constante aperfeiçoamento, possam aprender. Freire nos encanta quando diz: não há educação sem amor. […] Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama, não compreende o próximo, não o respeita (Freire, p.29, 1983). Essa prática exerce um papel político e sociocultural na aprendizagem dos (as) estudantes ribeirinhos, valorizando, assim, cada vez mais as comunidades camponesas amazônicas, nos seus territórios associados a história de vida, educação e trabalho orientado pela autonomia, liberdade, igualdade, solidariedade, justiça, respeito e o reconhecimento às diferenças, responsabilidade e preservação ambiental.