Ponencia

COM MINHA MÃE EM CAMPO: VALORIZANDO A PRODUÇÃO ANTROPOLÓGICA COLABORATIVA

Parte del Simposio:

SP.10: Experiencias de comunicación y diálogos en las antropologías latinoamericanas: posicionamientos, prácticas e interlocutores

Ponentes

José Rolfran de Souza Tavares

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Esse artigo é meu primeiro esforço para trazer por extenso um conjunto de estratégias metodológicas que apliquei na minha dissertação, realizadas com o objetivo de fazer uma aproximação agradável e comprometida com as mulheres com quem trabalhei, elas eram sujeitos que maternavam jovens negros e tiveram um de seus tutelados assassinados, todas residentes no conjunto de bairros periféricos onde resido, que fica localizado na cidade de Parnamirim/RN/BR, região metropolitana de Natal/RN/BR. Sendo a pesquisa de campo realizada entre maço e novembro de 2020, período em que as contaminações por coronavírus provocaram uma pandemia, sendo uma das medidas para controle sanitário a limitação da circulação das pessoas, motivo que me impulsionou a restringir as sujeitos com quem trabalharia a somente as que já estavam no meu cotidiano, por essa razão todas as mulheres que contribuíram para meu estudo são da minha vizinhança. Naquele trabalho meu interesse era compreender as noções de segurança pública delas e suas articulações para salvaguardar os filhos. Eu imaginava que provocar o diálogo sobre esse assunto poderia gerar um grande desconforto emocional, pois estaria as convidando para oralizar experiências cortadas pela perda de um parente que estava sob seus cuidados e da possibilidade de algo semelhante ocorrer com os demais com o mesmo perfil. Meu imperativo ético então era como produzir minha pesquisa sem inflamar possíveis sofrimentos, compreendi que uma das alternativas era deixar que alguém legitimada para acessar determinados conteúdos das vivências delas pudesse mediar nossos contatos, já que minhas reflexões sobre as dinâmicas socioculturais locais me levavam a crer que, incluindo alguém que oferecia uma escuta previamente lida como empática, provavelmente isso faria dos nossos encontros um momento de acolhimento. Essas considerações me impulsionaram a convidar minha mãe (Francisca) a compor o trabalho de campo, visto que ela maternava jovens negros nessa localidade a mais de uma década, além de participar de comunidades religiosas que algumas daquelas mulheres também faziam parte e de as encontrar frequentemente nos percursos ou instituições onde buscavam atendimento para os cuidados a si e sua parentela, espaços e momentos nos quais elas já tinham dialogado sobre as temáticas com as quais trabalhei. É essa experimentação que discorrerei no texto.