A coleção do pelotense Luiz Carlos Lessa Vinholes (1933-) possui aproximadamente dois mil objetos e se compõem de gravuras (de diferentes origens, períodos e técnicas); desenhos; documentos; fotografias; correspondências; quadros e objetos tridimensionais. O processo de doação e escolha da instituição museal para receber a coleção foram empreendidos pelo próprio colecionador. Finalmente, após anos de tratativas, em 2011 o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg / UFPel) recebeu os primeiros objetos. A Coleção L. C. Vinholes, como foi denominada posteriormente pelo Malg, trata-se do sétimo e maior acervo do museu até o momento, e, além disso, provocou mudanças significativas na constituição estética da instituição. Iniciada no Japão no final da década de 1950, a coleção reflete o perfil estético de seu criador: é produto de relações, ao passo que também é capaz de produzi-las. Evoca histórias, memórias, acontecimentos, por isso, pode-se dizer que as coleções também narram vidas. Na coleção de L. C. Vinholes existem muitos objetos que, juntamente com as memórias do colecionador, contam histórias. Dentre tantos, destaca-se o quadro abstracionista de Samson Flexor (1907 – 1971) que, a pedido do próprio pintor, foi levado ao Japão de navio por Vinholes em 1957 para ser dado de presente ao artista Kenzo Tanaka. O quadro foi o motivo para o surgimento de um importante vínculo de amizade que perdurou ao longo da vida de Vinholes e Tanaka. Essa proposta pretende narrar a história desta relação de amizade tendo o quadro como ponto de partida – sua circulação em diferentes territórios; sua participação em exposições de arte; a quem pertenceu ao longo de sua vida enquanto obra de arte; os eventos e encontros que testemunhou; as fotografias em que se faz presente. Para corroborar essa análise, parte-se de uma abordagem teórico-metodológica que se ancora no uso de experimentações com diferentes grafias no fazer antropológico. Dentre os experimentos realizados, destacam-se as narrativas que podem ser criadas a partir de softwares de geolocalização e a construção de mapas a partir de técnicas de bordado e aquarela. Deste modo, os experimentos que serão apresentados são resultantes da própria experiência estética e poética da pesquisadora em e com o seu campo de pesquisa.