Em uma publicação no Facebook sobre uma festa que ocorreria durante o Carnaval de 2023, a casa noturna Sul Brasil Point Beer, localizada na cidade de Pelotas (Rio Grande do Sul, Brasil), afirmou que não seriam tocadas apenas canções carnavalescas na noite em questão pois, como foi argumentado, “nossa casa é bailão”. A sentença parece autoevidente — ao menos para os familiarizados com o conceito. Maria Eunice Maciel, em uma pesquisa pioneira sobre o tema publicada em 1984, definiu o bailão como um tipo particular de casa noturna surgido no Rio Grande do Sul na década de 1970 no qual é praticado um repertório musical variado com frequentadores de várias idades. O recorte social do público, por sua vez, é o que caracteriza o bailão: seu público-alvo são as chamadas classes populares. Essa definição certamente é útil à interpretação da postagem supracitada, porém entendo que outras leituras são possíveis.
Empregado em contraponto às canções de Carnaval, o termo bailão aparece como indicador de um determinado repertório ou de certos gêneros musicais, ou ainda de modalidades distintas de dança. Já a definição de Maciel nos ajuda a pensar no bailão como um lugar, organizado de uma forma própria e localizado no tempo e no espaço. Também testemunhei, em minha experiência como músico dentro e fora do campo, o uso do termo como categoria e como marcador identitário e estético. Imaginário, performance e identidade se articulam no lugar antropológico que o bailão é.
Na pesquisa que venho realizando, investigo os bailões de Pelotas buscando compreender, da perspectiva de frequentadores e profissionais, o que é o bailão. Como esse termo é idealizado? De que formas ele é apropriado e integrado às identidades? De que formas o espaço de bailão é organizado? Como o bailão é performado? O presente ensaio tem como objetivo apresentar as possibilidades teórico-metodológicas levantadas até o momento, considerando o caráter incipiente da pesquisa em andamento, para apreensão deste fenômeno.