A maternidade é considerada como um projeto de vida que vai ser mais ou menos perseguido a depender dos sentidos atribuídos a esta que se articulam na vivência dos agentes, além dos fatores estruturais, considerando as alternativas possíveis no campo. Em alguns contextos, a recusa da maternidade pode ser considerada subversiva, em outros, lutar para engravidar representa uma resistência às limitações que o meio impõe. Gilberto Velho é uma referência para pensar na interação entre os projetos individuais com o campo de possibilidades, sem ignorar a existência de projetos incongruentes que os indivíduos possuem por conta da complexidade dos discursos e grupos a que eles estão expostos. A escolha pela opção da maternidade também é compreendida através do conceito de agência, tal como formulado por Saba Mahmood. A pesquisa em curso analisa como são conciliados os projetos de carreira e de maternidade no discurso de atletas e ex-atletas brasileiras do vôlei e de lutas, principalmente do MMA. Nos esportes, perdurou por 40 anos no Brasil a proibição de mulheres praticarem modalidades consideradas agressivas e contrárias a chamada natureza feminina que causariam prejuízos à saúde reprodutiva. Com o aumento expressivo da prática esportiva de mulheres e a longevidade da carreira para atletas de alto rendimento em algumas modalidades, novas demandas no campo esportivo começaram a ser pautadas como menstruação, gravidez e maternidade. As significações sobre maternidade e gravidez se colocam em confronto com o habitus do atleta, em função disso, a história da participação esportiva das mulheres revela muitas tensões entre o projeto de maternidade e a prática desportiva que tem como cerne a noção de corpo. Evidências de pesquisa de campo mostram que existe uma diferença de capital simbólico entre atletas do vôlei e da luta que permitem uma maior manifestação em favor da garantia da maternidade pelas jogadoras da quadra, enquanto as lutadoras rejeitam mais a maternidade como um projeto pela dificuldade em conciliar essa com uma carreira também longeva no esporte. A gravidez, motivo que justificou a proibição de qualquer tipo de luta para as mulheres no passado, é pensada como uma lesão que atrapalharia o rendimento das lutadoras, enquanto, no vôlei, há maiores debates sobre a garantia na conciliação entre carreira e maternidade, apesar dos muitos obstáculos impostos não só às atletas como também as mulheres em geral persistirem.