Ponencia

As violências, os venenos e os territórios encantados Magüta

Parte del Simposio:

SP.49: Violencias y desigualdades en las relaciones cielo-tierra: la astronomía cultural como abordaje emergente de disputas cosmopolíticas

Ponentes

Priscila Faulhaber

Pesquisadora Titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins, Professora da Pós Graduação de Antropologia Social da UFAM

Brasil

As relações céu-terra hoje no pensamento Magüta são perpassadas pela violência do contato interétnico é marcado por historicidade. O termo Tchiga – traduzido pelos Tikuna/Magüta como história – é empregado para designar narrativas de peripécias dos dias atuais quando vivenciam desigualdades marcadas por fronteiras étnico-sociais. Tais relatos podem ter conotação de intriga, de aventuras amorosas e em geral remetem à construção da autoimagem de protagonismo pelos narradores. Mas se refere também a contos cujos protagonistas são os heróis fundadores desse povo, pescado às margens do igarapé Eware que nasce na elevação de terra homônima, caracterizada como Montanha Encantada, localizada na terra, mais precisamente em território brasileiro, mas inacessível aos humanos.
A ideia de encantamento para além do sentido idílico, implica rupturas históricas produzidas por enfrentamentos que ocorreram mesmo em tempos anteriores à conquista e colonização e continuam ocorrendo mesmo em tempos pós-coloniais, como nos dias de hoje, quando as relações sociais são permeadas por teias inseridas em malhas de alcance mais do que planetário, multiverso. Destaca-se como protagonista Yoi’i, que entre outros feitos inventou o fogo e que trava pelejas incessantes com antagonistas, notadamente seu irmão Ipi. Este segundo, caracterizado como trickster comete constantemente contravenções e provoca embates.
Os seres que habitam o Eware são mediadores entre o que ocorre nos diferentes mundos, que vão da esfera celeste aos meios subterrâneos e subaquáticos. Conforme exposto pela liderança Santo Cruz, existe no pé desse Morro, como também é descrito, existe uma cova que leva ao infra mundo, outrora povoada por animais furiosos como o cão Yare’ que de lá saiam para atacar as pessoas. Yoi’i, para conter seus ataques, envenenou o seu nicho e desse modo contaminou-o com os venenos que são a fonte de poder dos animais peçonhentos que intimidam todos os que hoje vivem na floresta e na beira rio.