Ponencia

AS BRIGAS DE TORCEDORES DE FUTEBOL COMO LAZER, UM ESTUDO SOBRE OS BONDES DE PISTA

Parte del Simposio:

SP.2: Antropologías en disputa: reflexiones y prácticas desde el horizonte continental e insular delCaribe Cultural

Ponentes

Fábio Henrique França Rezende

Universidade Federal de Minas Gerais

Fábio Henrique França Rezende

Universidade Federal de Minas Gerais

Silvio Ricardo da Silva

A partir do final da década de 1980, as brigas entre as torcidas organizadas (TOs) acompanharam o aumento da violência urbana e juvenil no Brasil, com a consequente facilitação no acesso às armas de fogo. Murad (2013), afirma que, a partir da década de 2000, os óbitos ocasionados por brigas entre torcedores cresceram exponencialmente.
Esses acontecimentos fizeram com que a violência no futebol se tornasse uma preocupação do poder público e da sociedade, o que levou à criação de leis que controlam e reprimem os direitos dos torcedores. É nesse cenário que os bondes de pista surgem, formados por integrantes e ex-integrantes de TOs, com o intuito de contestar a ideologia das mesmas nas brigas reivindicando códigos de ética que preservem a vida dos participantes dos confrontos (TEIXEIRA, 2021).
Na interlocução com o referencial acadêmico olhamos para esses grupos com curiosidade de entender processos e dinâmicas de confrontos adquiridos por eles, pelo entendimento de lazer (GOMES, 2014). Além disso, notamos a precarização de políticas públicas nacionais que priorizem o debate e a participação ativa dos torcedores, visto que, historicamente, eles foram deixados de lado na discussão e formulação do debate, valorizando o conhecimento empírico que ultrapassa a rigidez acadêmica (LOPES & PRIOLI, 2010). Portanto, objetiva-se apresentar os bondes de pistas e suas características acerca das brigas.
Foram realizadas sete entrevistas semiestruturadas em 2023 (quatro presenciais e três no formato online, via google meet) com as lideranças dos bondes de pista e trabalhos de campo que acompanharam as atividades dos grupos.
No Brasil existem cinco bondes de pista: Bonde do Braço Fino (BBF) do Santos; Sobranada do Fluminense; Bate Anda do Flamengo; Bonde da Aliança do Ceará e Ultras do ABC de Natal. Por serem fechados, o contato foi feito por intermediários que já possuíam a confiança dos grupos. Os bondes de pista são independentes aos clubes que torcem, não possuem Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) e têm como elemento aglutinador o prazer pelas brigas. Estas são entendidas pela ideia de jogo e não de extermínio (COELHO, 2016), visto que os grupos buscam (res) estabelecer a cultura de conflitos limpos, sem utilização de armas de fogo, de armas brancas e com número parecido de participantes.
Em resumo, os bondes de pista se inspiram nos Hooligans (GIULIANOTTI, 2002) e na primeira geração das barras sul-americanas que possuem o princípio do aguante (ZUCAL, 2010). Apesar de terem características das TOs, encaram as brigas como lazer e configuram normas pré-estabelecidas para os confrontos.
COELHO, G. Deixa os garotos brincar. Rio de Janeiro: Multifoco, 2016.
GIULIANOTTI, R. Sociologia do futebol. Dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.
GOMES, C.L. Lazer: Necessidade humana e dimensão da cultura. Revista Brasileira de Estudos do Lazer – RBEL, v. 1, p. 3-20, 2014.
TEIXEIRA, R.C. da. Os perigos da paixão: visitando jovens torcidas cariocas. São Paulo: Annablume, 2003.
ZUCAL, J.G. Nosotros nos peleamos: violencia e identidad de una hinchada de fútbol. Buenos Aires: Prometeu Libros, 2010.