Ponencia

As 27 do ônibus para Bertioga: o encontro divisor de águas, na emancipação política, do movimento de mulheres afro cariocas.

Parte del Simposio:

SP.58: Feminismo y movimientos sociales en Latinoamérica: autonomía vs institucionalización

Ponentes

Monica Regina Miranda

Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)

Este artigo tem o objetivo de analisar as memórias de 27 mulheres negras cariocas sobre o trajeto do ônibus que as levou para o III Encontro Latino Americano Y Caribenho de Bertioga (SP,1985). Irei pesquisar os aspectos estratégicos de luta e desenvolvimento de mulheres afro cariocas dos últimos 40 anos (1980-2020). Assim visarei mais precisamente a compreensão dos seus processos políticos, organizações e militâncias. Para tanto, foco na trajetória dessas 27 mulheres negras oriundas de organizações distintas, como da escola politica IPCN, do bloco afro em Agbara Dudu e associações de favelas e periferias. Deste modo, procurarei como metodologia acessar e trazer à luz a historicidade da construção do movimento de mulheres afro cariocas através das sua memórias.
Certamente o estudo de trajetórias nos traz possibilidades em entender a projeção política e o empoderamento dessas mulheres negras. Dessa forma buscarei dar continuidade neste campo de trajetórias e narrativas e ao legado dessas mulheres.
A proposta deste artigo é compor as memórias visuais das 27 mulheres afrocariocas a partir de sua viagem para o III Encontro Latino Americano y Caribeno Feminista em Bertioga (SP, 1985). Partindo desse acontecimento, busco entender a trajetória das mulheres afrocariocas e sua historicidade, dentro do contexto brasileiro, com seus testemunhos e suas formas de construir, desconstruir e reconstruir espaços de resistências na sociedade civil. Em suas trajetórias as relações entre raça, classe e gênero estão presentes, e se entrecruzam na vida dessas militantes o que, segundo Crenshaw (2002) permite “pensar relações entre as discriminações de raça, classe e de gênero”.
Introdução
Sendo assim, também procuro compreender melhor a busca da autonomia dessas mulheres negras já que, segundo Moreira(2014), havia uma negação do movimento de mulheres negras entre os anos 70/80 diante da universalização promovida pelas feministas brancas, que as excluía das pautas feministas. Pretendo então identificar o que levou o movimento de mulheres negras a procurar sua autonomia em meio aos tensionamentos entre as feministas brancas e mulheres negras, os quais serviram para dar notoriedade às particularidades nas questões das mulheres negras. Essa negociação resultou numa emancipação política diante do movimento negro e do feminismo branco. Nessa luta por autonomia, as mulheres negras começaram a construir suas pautas e fazer seus encontros.
Num mundo contemporâneo em que a imagem prevalece, a memória visual assume um papel de reconstrução para além do olhar treinado e a memória visual vai além dos limites que a retina possa atingir. Desse modo, a oralidade será usada na tecitura de uma memória visual dessas mulheres, num processo de captação do imaginário a partir de seus testemunhos.
Num contexto em que essas mulheres serão consideradas como interlocutoras deste artigo também explicito meu posicionamento e o meu lugar como militante do movimento feminista negro afrocarioca e integrante do Grupo Afro Agbara Dudu. Primeiramente, porque é deste lugar que expresso minhas indagações, já que foi a partir da prática política que minhas questões emergiram como tais.