Ponencia

Arte, processos e materiais: etnografia de um ateliê

Parte del Simposio:

SP.62: Antropoéticas: As grafias enquanto gesto político, ético e poético.

Ponentes

Rodrigo Frare Baroni

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Como parte de uma pesquisa de doutorado em curso que tem se debruçado sobre os tensionamentos das categorias entre “lixo” e “arquivo” bem como entre “memória” e “esquecimento” (ASSMAN, 2018) demos início a uma investigação sobre diferentes perspectivas e possibilidades poéticas envolvidas na lida com materiais descartados ou provenientes de arquivos institucionais por parte de artistas. Perguntamos aqui, sobretudo, acerca do que seriam ou poderiam ser os arquivos, as coleções e os documentos quando estes passam a serem vistos menos enquanto “provas” de um fato transcorrido do que como materiais a serem trabalhados, isto é: materiais a serem abertos e transformados poeticamente pelo trabalho artístico.
Tal como afirma Octave Debary (2017), os “restos” são uma categoria de coisas difíceis de se definir e de se pensar, uma vez que eles são formas intersticiais e intervalares situadas no “entre-dois” [entre-deux] no que se refere à perda e à permanência, à história e do devir, ao eu e ao outro.
Com base nesses questionamentos, essa apresentação propõe-se realizar um pequeno experimento descritivo do ateliê e das atividades da artista argentina (radicada no Brasil) Estefania Gavina, a qual trabalha sobretudo com o que poderíamos denominar de uma poética dos restos, já que seu fazer artístico toma como ponto de partida a coleta de materiais dos mais diversos, em grande parte oriundos do descarte urbano. Procuraremos acompanhar os movimentos da artista desde a recolha dos materiais de seu trabalho, passando pela organização destes no espaço de seu ateliê e os processos de produção de suas obras, além dos seus desdobramentos na produção de um arquivo de imagens descartadas (trata-se do projeto ACHO – Arquivo Coleções de Histórias Ordinárias coordenado pela artista em parceria com a pesquisadora Fabiana Bruno). Nesse sentido, procuraremos menos interpretar suas obras do que observar seus processos de produção a partir da lida com os materiais, além disso procuraremos entender o que as ideias de “arquivo” ou da “coleção” poderiam implicar nesse fazer.