Embora seja uma indústria cultural globalizada, o futebol profissional de clubes apresenta características muito particulares de país a país. Com relação aos aspectos estruturais, que extrapolam a discussão esportiva (dentro de campo) ou sociocultural (nas arquibancadas), a compreensão do processo histórico de constituição dos “tipos de clubes” ainda demanda um maior aprofundamento pelo amplo campo de estudos do futebol.
Há quatro décadas, clubes de futebol vêm sendo obrigados ou estimulados ao abandono do modelo de associação civil (com participação dos sócios) para a adoção de um modelo empresarial (com acionistas ou um único dono), com muitas diferenças entre os modelos predominantes em cada país. Tanto na América do Sul quanto na Europa, esses diferentes processos históricos formaram um complexo quadro de modos de funcionamento.
A importância da compreensão mais concisa sobre os “tipos de clubes” se mostra mais evidente quando observadas as abordagens comparativas – entre diferentes clubes e/ou diferentes países. Muitas vezes, importantes estudos não captam elementos importantes para a apreensão dos fenômenos estudados, por não darem a devida atenção a essa questão.
O objetivo desse artigo é oferecer uma contribuição sobre a forma como clubes se constituem na atualidade, sugerindo um percurso analítico que propicie maior consistência aos estudos socioantropológicos do futebol profissional. Dessa forma, apresenta um quadro tipológico em três níveis, classificando diferentes formatos jurídicos, estruturas societárias e modelos políticos nos clubes existentes.
Entende-se que esses três aspectos são úteis para a compreensão de um “tipo de clube” (ainda que não definitivos), questão tende a ter grande impacto na investigação de variados assuntos de interesse dos estudos do futebol, especialmente com relação à questão “política” – isto é, a forma como o clube é administrado e como se dá o processo de tomada de decisões.
O artigo apresenta um diagrama tipológico e sugere diferentes formas de coleta desses dados, observando a necessidade de apreensão do processo histórico mais amplo de cada país, do processo histórico de transformação particular de cada clube e da forma como os torcedores buscam participar/interferir/influenciar os rumos do clube.
O artigo ainda expõe alguns exemplos que permitem entender a diferença do modo de funcionamento político, de acordo com o tipo identificado. Associações civis mudam suas diretorias em processos eleitorais, que podem variar consideravelmente. Clubes constituídos como empresas (em sua maioria, sociedades anônimas) também podem funcionar de diferentes maneiras, considerando em muitas ocasiões a própria associação civil originária se apresenta como acionista, com maior ou menor poder de decisão.
Sustenta-se, portanto, que o funcionamento político de cada clube, compreensível através da identificação do “tipo” em questão, é um fator crucial para a análise dos mais diversos objetos de estudos relacionados ao futebol profissional contemporâneo.