Proponho contribuir com as discussões produzidas em torno do ensino de Antropologia. Tem sido crescente o reconhecimento de que a Antropologia, em especial, a latino-americana, esteja passando por uma virada epistemológica e metodológica importante e necessária. Dos desdobramentos dos anos 1970 para cá, o fazer descolonial (Mignolo, 2007) aprofundou os debates em Antropologia e, assim, ideias foram colocadas em xeque, como por exemplo, alargou-se o debate sobre a colonialidade, a naturalização do racismo, as violências e o patriarcalismo. Dessa maneira, foram lançadas luzes para outros caminhos, outras epistemologias, outros lestes. Como resultado, muitos trabalhos etnográficos estão discutindo temas outrora marginais e estão adotando uma diligência mais cuidadosa em relação à luta travada pelos grupos estudados. Quanto à sala de aula, professoras e professores de nossa área têm recorrido a uma antropologia mais engajada, tendo como aliadas, por exemplo, a metodologia Paulofreiriana de ensino, que vê na luta por direitos uma importante prática docente e a proposta de educação transformadora e transgressora de bell hooks (2017), em que a sala de aula tem se tornado um espaço mais democrático e provocador de responsabilidades. Nessa proposta de comunicação proponho relatar sobre minhas vivências (enquanto professora e antropóloga) em ações acadêmicas desenvolvidas em trabalho comunitário (extensão universitária), tendo como foco o enfrentamento à violência doméstica e familiar, com mulheres que vivem na periferia da região metropolitana goiana, no Brasil (ano 2023). Sem a intenção de romantizar esse trabalho, farei relato sobre as dificuldades estruturais e financeiras, além de limitações e impedimentos que nos atravessaram durante a execução desse projeto. Pretendo comentar como o projeto extensionista, que nasceu em sala de aula, surgiu de provocações dialógicas durante as aulas de Antropologia Jurídica dentro de uma universidade pública estadual, quando abordávamos sobre a cultura do machismo e o alto índice de feminicídio no Brasil. Nessa experiência, a extensão universitária nos transportou da sala de aula e nos levou até a comunidade. Como resultado, as rodas de conversa puderam ser aplicadas como estratégia dialógica emancipatória, possibilitando-nos fazer a aplicação de epistemologias feministas e apresentação de Leis Mulheristas brasileiras. Por fim, pudemos criar espaços de interlocução, escuta, troca de experiências, saberes e acolhimento de mulheres, além de orientação sobre canais de denúncia para o rompimento definitivo do ciclo de violência doméstica e familiar. Sentimos impotência. Vimos que nossa intervenção não foi suficiente. Descobrimos que além da Antropologia, nossa roda de conversa precisava contar com estoque de comida, água, material impresso, material didático, voluntárias/os para cuidar das crianças, uso de linguagem não acadêmica, etc.