Ponencia

Antropologia, Instituições públicas e Corpos à margem: notas sobre construção de uma intelectualidade negra e desafios na academia

Parte del Simposio:

SP.44: Democracia en peligro: proyectos políticos en disputa y alternancias en gobiernos latinoamericanos – ¿Qué hay de nuevo?

Ponentes

Tamara Roque Caetano

Universidade Federal de Alagoas

Seguindo a linha de pensamento da intelectual negra Conceição Evaristo(2005) que nos diz: “a nossa escrevivência não pode ser lida como histórias para ninar os da casa grande e sim para incomodá-los em seus sonos injustos” aciono neste trabalho a minha experiência como pesquisadora-mediadora no Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, equipamento cultural da Universidade Federal de Alagoas vinculado ao Instituto de Ciências Sociais, situado em Maceió, no estado de Alagoas, Brasil, como como fio condutor para pensar os desafios e estratégias para construção da Intelectualidade Negra na academia. Portanto, me apoio na escrevivência de Conceição Evaristo, bem como na interseccionalidade defendida por Carla Akotirene(2019) como estratégia textual, teórica e analítica. Enquanto pesquisadora, mulher negra, bissexual e candomblecista, portanto, corpo-geopolítico parto das contribuições da Standpoint Theory Feminist(Collins, 2019) e da cosmopercepção decolonial e afro-diasporica para refletir criticamente sobre os processos de desigualdades, que não só estudo, mas também vivencio e que me colocam em condições de problematizar os imagens e lugares que mulheres negras foram historicamente condicionadas a estarem e provocar tensões e questões a partir da minha posicionalidade nos espaços de formação-atuação academica. Considerando que a conjuntura política do período no qual atuei na instituição, entre os anos de 2017-2020, revela um cenário de ataques à cultura, à ciência, as universidades públicas e sobretudo as minorias sociais, o MTB se apresenta como um campo marcado por disputas de narrativas, contradições, dissonâncias que nos coloca frente a frente com racismo sistêmico e institucional, epistemicídio e assédio moral que acaba por revelar os projetos políticos em jogo na sociedade brasileira, sobretudo após o golpe de 2016. Diante do exposto, e apoiando-me nos conceitos de interseccionalidade, racismo institucional e assédio moral, busco através de registros etnográficos e revisão bibliográfica “pensar a partir das margens”, ou melhor, da escrevivência para refletir sobre a construção da intelectualidade negra na academia que é atravessada por desafios da posicionalidade que orientou a minha prática antropológica no MTB. Assim como evidenciar as ferramentas e práticas de enfrentamento desenvolvidas frente aos mecanismos de exclusão-expulsão que são históricos e racialmente marcados.