Neste trabalho que está vinculado à minha pesquisa para a tese de doutorado, apresento conceitos e ideias surgidas a partir de uma série de intercâmbio de reflexões que venho realizando junto a um pensador indígena do povo Guarani Mbya sobre plantas, Mata Atlântica, língua e povo Guarani. Através das imagens e estéticas vegetais contidas nas narrativas, pretendo trazer a originalidade e a relevância dos próprios relatos e análises deste pensador sobre a cosmologia de seu povo. Os conceitos, reflexões e traduções guaranis servem aqui como impulso para debater língua guarani e tradução, analisando as formas particulares que os indígenas traduzem seus mundos à sociedade não-indígena e propor alternativas à tarefa da tradução de mundos (e não só de palavras) no âmbito de uma antropologia implicada (cf. Albert, 1995). Tendo como foco essa proposta guarani, tenho a intenção de propor uma experiência de encantamento com os “brotos” e os vegetais para compreender não só a poética vegetal do mundo guarani, mas também a sua crítica à noção ocidental de floresta e Mata Atlântica. O “pacto etnográfico” que venho construindo com este pensador se constitui assim em uma tentativa de construção de uma proposta cosmopolítica para traçar pontes entre universos culturais diferentes, levando a sério o pensamento indígena, que nos exige adquirir consciência para germinar outros modos de existir.