Ponencia

Agentes estatais, agência indígena e tramas ditatoriais: leituras do Relatório Figueiredo/Brasil

Parte del Simposio:

SP.19: Interrogando la política y las políticas desde abordajes etnográficos. Desafíos para la construcción de conocimiento antropológico

Ponentes

Jane Felipe Beltrão

Universidade Federal do Pará (UFPA) Brasil

A leitura de documentos estatais, como o Relatório Figueiredo, traz à pesquisadora o desafio de pensá-lo ao mesmo tempo como uma expressão do genocídio que abate os povos indígenas desde tempos imemoriais, embora o fato seja negado pelo Estado brasileiro. Sem descurar da possibilidade de uma minudente leitura da documentação, pois é preciso trazer a público tantos a agência dos povos indígenas lidas nas entrelinhas do documento, bem com a coletar dados sobre a postura dos agentes de Estado, algumas/ns raras/os funcionárias/os do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) que se apresentavam solidários aos indígenas. E entre este pessoal raro, descobrir se os depoimentos eram “verdadeiros” ou uma ocasião de se safar das ocorrências. Há um número significativo de pessoas indígenas (209) que sofreram violações de Direitos Humanos produzidas no período ditatorial. Afinal, há na massa documental 99 tipos de documentos “espalhados” ao longo dos 30 volumes do Relatório Figueiredo e em cada volume há um expressivo número de torturas perpetradas contra os corpos indígenas de 75 etnias diferentes. Trabalhar pensando nos agentes e nas posturas implica eu usar, por exemplo só para tratar de tortura, um sem-número de expressões nativas, tais como: ”… flagelo; suplício; atrocidade; pancada; palmatória; açoite; exploração; escravização; espancamento; chicoteamento; “penduramento”; aliciamento; massacre; atos escabrosos; castigos; maltratar ou “mau tratar” (sic); matança; esfaqueou; surrou e escorraçou …”, como ensina Cardeal (2023: 61). O Relatório Figueiredo oferece boas formas de pensar as ações do Estado a partir de seus agentes e aponta formas de conhecimento a partir de rigorosa etnografia bastante nuançada pelas situações diferenciadas no contexto.