O capitalismo contemporâneo é caracterizado por notáveis mudanças em sua dinâmica, e uma delas pode ser percebida nos discursos empresarias que estão apostando cada vez mais em «diversidade e inclusão». A população LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) no Brasil e no mundo vem ganhando força na conquista de direitos, em que o acesso ao trabalho formal e a renda se tornou uma demanda central (IRINEU; OLIVEIRA, 2020). Dessa forma, ganha força o investimento de empresas na imagem «lgbtfriendly» ou «transfriendly» a exemplo da Uber, Carrefour e Avon através de campanhas publicitárias, ações afirmativas, patrocínio de eventos, etc. Por sua vez, o poder público e as ONGs, a exemplo de iniciativas como o «OportunizTrans» do Governo do Estado do Ceará, o Programa «TransCidadania» da Prefeitura de São Paulo, e a ONG TransEmprego, também investem em ações que promovam oportunidades de trabalho formal e renda para este segmento, sobretudo para as pessoas trans, que é o perfil que enfrenta maior vulnerabilidade econômica. Em minha pesquisa de doutorado, em andamento, estou buscando retratar a questão do trabalho formal para pessoas trans partindo de suas trajetórias com relação ao trabalho formal no Ceará. Com base na pesquisa teórica, diários de campo e o material empírico trabalhado até o presente momento, foi possível apreender que o processo de transição de gênero, nome social, uso de banheiro e outras particularidades configuram desafios concretos na inserção e na permanência dessas pessoas no trabalho formal, mesmo em ambientes «abertos à diversidade». Categorias como «pink money»(CICMANEC; HELLER, 2018) são chaves para compreender a lógica empresarial heteronormativa que, com uma mão produz oportunidades de emprego, e com a outra também produz a manutenção dos mecanismos de exclusão social nos quais historicamente a população trans é acometida. Nesse sentido, as lentes sociológicas da pesquisa busca analisar a complexidade da questão e seus impactos na vida social.