As décadas passadas foram marcadas por intensas transformações no ensino superior em relação principalmente ao aumento do ingresso de estudantes oriundos de grupos historicamente marginalizados nas universidades públicas brasileiras. Com a formulação da política de reserva de vagas institucionalizada pelo Estado brasileiro em 2012 através da Lei 12.711, esses sujeitos passam a ingressar com mais expressividade nas universidades, modificando de modo decisivo as paisagens dessas instituições de ensino. Nesse contexto, a frente que tenho pesquisado atualmente lança luz no ativismo negro universitário protagonizado por estudantes negros organizados através de formas contemporâneas de organização política, os Coletivos Negros. Meu campo de pesquisa é na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), universidade pública, situada na cidade de Campinas, que está localizada no interior do estado de São Paulo, na região Sudeste do Brasil e que é famosa porque foi a penúltima instituição pública do país a adotar as cotas raciais como uma das modalidades de política de ação afirmativa que garante o ingresso da população negra ao ensino superior. Atualmente realizo meu doutoramento no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais na mesma instituição, fazendo uma etnografia online e offline das ações políticas desenvolvidas pelos Coletivos Negros. Como forma de existir e resistir na universidade, os estudantes negros que ingressam no superior principalmente pela modalidade das cotas raciais nos cursos de graduação e também em alguns cursos de pós-graduação, se organizam social e politicamente dentro da UNICAMP lutando por mais reconhecimento e valorização de seus corpos nesse ambiente, mais espaço nas arenas decisórias da universidade onde reivindicam maior participação política e lutam pela democratização do ensino superior. Em uma teia complexa de disputas e negociações onde circulam vários atores políticos, compreendi com o trabalho de campo que os Coletivos Negros tensionam o status quo das universidades, disputando a instituição contra grupos hegemônicos, propondo outras e novas formas de produção de conhecimento e fiscalizando as políticas públicas de ação afirmativas racialmente orientada para que esse ganho político estratégico para o movimento social negro não se perca. Diante do agitado cenário social e político que se apresenta hoje na universidade, tentamos com esse trabalho responder a seguinte pergunta: estaria a Universidade Estadual Campinas preparada para lidar com a diversidade de sujeitos presentes na instituição?