O trabalho se desenvolve a partir das memórias e performances de Naraguassu Pureza, uma mulher amazônida, educadora social e pajé. Possuidora de uma marcante representação visual, devido a sua indumentária com as quais performatiza e milita na cidade de Belém. Destacamos que compreendemos a performance a partir de Paul Zuntor não só como um ato de comunicação, mas como categoria cuja função poética ressalta o modo de expressar a mensagem num dado contexto social, uma experiência histórico-cultural com o uso do corpo e da voz. Suas atuações, sejam elas culturais, sociais e políticas, nos desvelam um complexo de realidades, no qual estamos nos aprofundando, principalmente elucidando suas questões pessoais e sua trajetória de Afuá no arquipélago do Marajó para a capital paraense. Suas roupas costumam ser coloridas, com tons claros e quentes, sempre adornadas com bordados e pinturas, como grafismos marajoaras ou elementos da natureza amazônica, produzidos artesanalmente. Seus acessórios são o que podemos compreender como étnicos, compostos por colares de sementes, resinas, penachos e tapeçarias. No entanto, uma das suas marcas registradas é a sobrinha, a qual sempre carrega. Adornada com diversos elementos, possui muitas fitas coloridas e letras costuradas, dentre outros elementos, registram graficamente a sua militância, como a escrita “não ao marco zero”. Questão que assumiu ultimamente como uma das suas frentes de batalha, mas esta não é a única, por exemplo, milita questões culturais, de gênero e principalmente em prol das crianças. Nesse contexto, buscamos reconhecer suas redes de sociabilidade e influências, que demarcam suas atuações nos movimentos sociais e culturais da cidade. Já que as suas ações públicas, por meio de sua performance, destacam a sua presença por meio da visualidade, que imageticamente denunciam suas questões e impactam socialmente. Em plenas multidões, como o Auto do Círio, em cortejos de bois-bumbá, passeatas e manifestações, de longe vemos sua sombrinha, demarcando território, enfeitando a cidade e fazendo suas denúncias sociais. Por este fato, reconhecemos sua sombrinha como um instrumento de luta e de resistência cultural, pois às vezes deixa o maracá, instrumento impunhado pelos pajés, e empunha sua sombrinha, com beleza e maestria social. Com ela dança, se diverte, evoca o espiritual e convoca os participantes para as suas indignações. Pois para ela, estar no mundo, como mulher amazônida, se configura em atos cênicos, performativos, lutas, na busca de transformações sociais
Palavras-Chave: Memória, Mulher, Pajelança Urbana, Amazônia