Neste artigo pretendo jogar luz sobre o trabalho realizado pelas associações e pelos coletivos canábicos no Brasil, considerando as estratégias de assistência para acesso à maconha para fins terapêuticos e a um atendimento médico especializado. Durante a pesquisa de mestrado realizei trabalho de campo em um coletivo sem fins lucrativos que auxilia pacientes e seus familiares que procuram pelo tratamento com a cannabis. O grupo em questão, que realiza suas atividades de maneira remota através de aplicativos de videochamada, conta com uma rede de apoio médica e social e tem como finalidade amparar pessoas que buscam esse tipo de tratamento para diversas doenças e patologias, como Parkinson, autismo, Alzheimer, câncer, ansiedade, depressão, entre outras. Esse coletivo prioriza o atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social, colocando em primeiro plano pacientes e familiares que não possuem condições de pagar por uma consulta médica. O espaço de acolhimento do coletivo não está focado apenas no saber médico, mas também no trabalho realizado pelas “cuidadoras”, que são as colaboradoras voluntárias que acompanham os pacientes e familiares antes, durante e depois das consultas, estando em contato sobre questões que dizem respeito ao uso do remédio em questão e mediando a relação médico-paciente. Vale considerar que a maconha no Brasil está passando por um processo de regulação, portanto, seu status legal permeia entre as fronteiras do “lícito” e o “ilícito” e não é vista como uma via de tratamento convencional. Desde 2015 a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vem normalizando o processo de importação e a venda de produtos à base de cannabis. Este trabalho tem como objetivo ressaltar o papel dos movimentos sociais nas demandas dos pacientes e familiares que querem iniciar o tratamento com a cannabis. Procuro também identificar, a partir das observações no trabalho de campo, como o coletivo em questão se organiza e como focam em um modelo de “educação em saúde” para seus participantes. Outro ponto importante a se explorar é a construção das consultas coletivas, de modo que a construção dos saberes envolvendo o tratamento não são pautadas unicamente na figura do médico, mas de todos que compartilham suas experiências de vida.