Ponencia

A política na contramão dos direitos? visibilidades e invisibilizações acerca da ajuda na saúde

Parte del Simposio:

SP.19: Interrogando la política y las políticas desde abordajes etnográficos. Desafíos para la construcción de conocimiento antropológico

Ponentes

Gilmara Gomes da Silva Sarmento

Instituto de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde - ICEPi

A partir de uma pesquisa etnográfica, o trabalho aborda como as ideologias que criminalizam a política determinam processos de subjetivação que concorrem para esvaziar a concepção de direitos no campo da saúde. Trata-se de problematizar uma prática concebida como ajuda na saúde em um munícipio do interior do Rio de Janeiro, analisando-a para além do uso eleitoreiro que a mesma também mobiliza. A pesquisa evidenciou uma complexa rede de relações entre moradores (usuários dos serviços públicos de saúde) e políticos locais em torno do acesso aos serviços de saúde, cujas explicações não podem ser reduzidas pelo argumento da pobreza e/ou ignorância da população, conforme os políticos locais faziam crer, tampouco pela ideia de que a ajuda proporcionada por estes políticos estava baseada apenas em cálculos eleitorais. Observou-se que um imaginário social estruturado a partir de concepções negativas sobre a política, confluía para o entendimento da saúde pública como lugar de precariedade permanente e, portanto, para que o direito constitucional à saúde fosse mobilizado como dádiva distribuída através da ajuda na saúde. A corrupção concebida como característica precípua da política, conduzia a população a uma descrença generalizada na política formal, como mecanismo de transformação social e para o acesso aos direitos, e alimentava um sentimento comum de que “a política não olha para a saúde”, porque os serviços públicos estariam direcionados para pobres. Partindo deste princípio, o acionamento ou recebimento de ajuda para conseguir serviços de saúde, superava a pressão social pela ampliação das políticas de saúde e o empenho dos políticos na consolidação e/ou melhoria dessas políticas. Neste sentido, o trabalho busca refletir e dar visibilidade aos processos de subjetivação e às práticas sociais que são cruciais para compreender certos mecanismos que operam na contramão do acesso à cidadania e aos direitos, mas geralmente invisibilizados ou subsumidos por definições, apriorísticas, de fenômenos como o da ajuda na saúde como sendo clientelismo político.