Ponencia

A EDUCAÇÃO INDÍGENA ENQUANTO CONFLITO ONTOLÓGICO: APONTAMENTOS TEÓRICOS INICIAIS PARA UMA PESQUISA JUNTO A EDUCADORES INDÍGENAS MUNDURUKUS

Parte del Simposio:

SP.28: Memorias y comunicación indígenas: construcción de espacios de organización y visibilización de luchas en contextos de subalternización

Ponentes

Matheus Guarino de Almeida

Universidade Federal Fluminense

Wilson Madeira Filho

A presente comunicação traz o início de algumas reflexões teóricos sobre a educação indígena desenvolvidas junto a trabalho de campo, ainda em curso, com educadores indígenas do povo Munduruku do Alto Tapajós. Os educadores indígenas do Alto Tapajós/PA, reunidos em torno da Associação Arikico – Associação dos Educadores Indígenas Mundurukus/Alto Tapajós, têm atuado na reivindicação de seus direitos educacionais indígenas, dentro de uma agenda de lutas de natureza etnopolítica empreendida pelos grupos de resistência do povo Munduruku, principalmente no que tange à criação de um Currículo Escolar Indígena e de um Plano Político Pedagógico Indígena para suas escolas, dentro da proposição de uma escola indígena diferenciada e intercultural, prevista na legislação brasileira. Longe de ser apenas o cumprimento da legislação, a luta dos educadores indígenas se insere em uma agenda de lutas de natureza etnopolítica empreendida pelos grupos de resistência do povo Munduruku, junto à luta pelo território e contra a exploração de garimpeiros em sua terra. A luta por uma educação que contemple os valores culturais próprios atua como rede identitária, congregando lutas paralelas, como a defesa de espaços sagrados no território, o bloqueio ao garimpo no médio e alto Tapajós e o fortalecimento da Associação Wakoborum (formada por lideranças mulheres Munduruku), entre outras. Nesta comunicação, pretende-se pensar a instituição “escola indígena” em sua dualidade: uma vez que a escola é uma instituição, assim como o Estado, inserida colonialmente na sociedade indígena, o que representa a reivindicação por uma escola indígena diferenciada, que seja constituída pelos próprios indígenas? A pesquisa aponta, preliminarmente, a possibilidade de tratar a oposição educação escolar pariwat (não-indígena, em Munduruku) e educação indígena enquanto um conflito ontológico, por resultar na disputa quanto à existência de seres e entes sociais, com base nas proposições de Mauro Almeida (2021). A pesquisa se compreende enquanto uma pesquisa engajada que entende os conflitos sociais enquanto “lócus privilegiado de compreensão do universo social, pois são momentos de tensão em que as diferentes versões em termos de interesses, os diferentes agentes do processo em curso e as suas contradições aparecem de modo mais explícito” (Dias, 2022, p. 3), dentro de uma agenda de pesquisas empreendidas pelo Laboratório de Justiça Ambiental da Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ, Brasil), estando a pesquisa compreendida dentro dos conflitos socioambientais existentes nos territórios, em que que os interlocutores da pesquisa, em vez de “objetos” a serem estudados, participam enquanto sujeitos ativos na construção do conhecimento a ser produzido (Freire, 1981), que, propõe uma aproximação entre antropologia e educação (Ingold, 2020).