Ponencia

A dinâmica da comida como atrativo turístico: uma reflexão sobre processos recentes na Ilha da Gigóia/ RJ

Parte del Simposio:

SP.18: Um olhar socioantropológico sobre os modos de comer e viver na América Latina e no Caribe

Ponentes

Maria Amália Silva Alves de Oliveira

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Helena Catão

Maria Amália Silva Alves de Oliveira

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

As práticas alimentares, a comida, os modos de produzir e comer, os utensílios usados, e as temporalidades associadas a todo esse conjunto expressam sociabilidades e códigos importantes para entender a vida social de um grupo, falando também dos processos que ocorrem nessas sociedades. Todos estes aspectos têm se modificado continuamente, na atualidade, por razões diversas. Um dos fatores decisivos para que isso ocorra é a centralidade que a comida adquiriu diante do turismo, fenômeno contemporâneo que tem afetado a vida de inúmeros lugares e grupos sociais. Da importância como serviço de apoio à atividade, a alimentação passou a se constituir como atrativo turístico, carreando fluxos de visitantes, que muitas vezes descobrem secundariamente outras razões para a visitação, depois do interesse principal na comida. Nesse sentido, ela ingressa em uma nova dinâmica, em que pratos são selecionados e retrabalhados conceitual e concretamente, para ocupar o lugar de patrimônio gastronômico, compondo um imaginário construído com paisagens e memórias, entre diversos outros artefatos culturais. O objetivo deste trabalho é desenvolver uma reflexão sobre este fenômeno, a partir do que ocorre na Ilha da Gigóia, pequena ilha localizada na Lagoa da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro. Habitada originalmente por pescadores, a ilha passou a ser frequentada por turistas, principalmente devido aos seus restaurantes, que inicialmente pertenciam a moradores locais, passando, mais tarde, a receber investimentos de pessoas externas à localidade. Ganhou notoriedade por se promover como lugar bucólico em meio a agitação da metrópole, onde os pratos à base de peixes e frutos do mar, tidos como típicos de comunidades pesqueiras, compõem a cena. Hoje tem-se desenvolvido também passeios culturais, contando com o trabalho de guias de turismo, que conduzem os visitantes pelas ruas da ilha, apresentando a história do local e de seus moradores, o artesanato lá produzido e integrando tudo isso com passeio de barco e apreciação da natureza. A frequentação aumentou ainda mais a partir da pandemia de Covid-19, por atender a uma demanda de cariocas e turistas por lazer ao ar livre, por natureza, e, também, pela proximidade com outros bairros e com o centro da cidade. A reflexão aqui apresentada insere-se em projeto de pesquisa mais amplo onde as autoras vem analisando a relação entre alimentação e turismo no contexto de populações tradicionais, especialmente as residentes em Unidades de Conservação (UC). Desta forma, cabe destacar que o presente trabalho é parte da ampliação de tal pesquisa para contextos além do universo das UCs e assim sendo, a metodologia de pesquisa a ele relacionado incide sobre revisão bibliográfica, acompanhamento de páginas virtuais relacionadas a gastronomia, entrevistas e observação participante. De acordo com o exposto, para essa comunicação oral apresentamos resultados iniciais da pesquisa etnográfica em curso, sendo essa constituída a partir de observação direta e entrevistas com proprietários, gerentes e funcionários de restaurantes locais, frequentadores dos restaurantes e da ilha e moradores.