Ponencia

“A brincadeira é nossa revolução”: fazendo-cidade a partir do carnaval de rua

Parte del Simposio:

SP.39: Etnografías de la/en la vida urbana: territorios, espacios públicos y vulnerabilidades sociales

Ponentes

Joanna Munhoz Sevaio

UFRGS

Em minha pesquisa de doutoramento, realizo etnografia multissituada junto a blocos de carnaval de rua, nas cidades de Porto Alegre e Rio de Janeiro, no Brasil, analisando o viés político da atuação dos grupos. Esses coletivos inserem-se em um movimento crescente, sobretudo a partir da década de 2010, de ocupação dos espaços públicos a partir da festa. São corpos em dança, movimento, celebração, que no seu agir urbano coletivo vão configurando uma outra cidade, fundamentada nos contra-usos cotidianos das ruas, praças, monumentos e avenidas por onde passam. É a partir da manifestação da alegria que os blocos reivindicam pautas da comunidade LGBTQIA+, feministas e antirracistas, buscando se expressar livremente pela cidade e fazendo das ruas lugar de pluralidade. A festa é, nesse caso, reivindicada como ferramenta de contestação, constituindo um importante repertório político contemporâneo, um desdobramento prático-narrativo da noção de direito à cidade. Minha experiência etnográfica é sobretudo corporal: coloco-me, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, no meio dos milhares de foliões, vivenciando a cidade junto a eles, observando os fluxos e trajetos urbanos que vão sendo configurados pelas sociabilidades carnavalescas. Além disso, tenho realizado entrevistas com representantes dos blocos que acompanho nas ruas, a fim de aprofundar o entendimento do viés político que fundamenta as práticas observadas e vivenciadas nos fluxos pelas duas cidades. Neste trabalho, tomando de empréstimo a noção de Michel Agier (2011), exploro os processos de fazer-cidade protagonizados pelos blocos de carnaval que tenho acompanhado, evidenciando seus deslocamentos e maneiras de ocupar as ruas. Em síntese, analiso as formas de apropriação do espaço urbano e os engajamentos políticos que o carnaval de rua propicia. A análise combina, portanto, os dados coletados a partir da experiência do carnaval em si e das conversas realizadas com integrantes dos blocos ao longo do ano. Conforme venho analisando, as sociabilidades festivas projetam uma cidade vocacionada para a vida coletiva, onde pulsam as vivências citadinas de caráter libertário e criativo.