O trabalho esboça a história da antropologia social que se pratica no Brasil junto a sociedades indígenas a partir dos anos 1950 até o presente para examinar tentativas de definir um estilo nacional da disciplina. Roberto Cardoso de Oliveira, examinando o período anterior, entre os anos 1920 a 1950, distingue fases históricas da disciplina, marcadas na etnologia indígena pelo período “heroico” representado por Curt Nimuendaju, e o período “carismático” representado por Darcy Ribeiro, cujas orientações foram pautadas pela noção de cultura (cultural-funcionalismo), e Florestan Fernandes, orientado pela noção de estrutura (estrutural-funcionalismo) (Cardoso de Oliveira, 1988, p. 109-128). A partir dos anos 1950 surgiram autores como Egon Schaden, Eduardo Galvão, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro. Apesar de Darcy Ribeiro estar insatisfeito com a abordagem culturalista, sua noção de “transfiguração étnica” era muito abrangente para ser aplicável no nível empírico. Roberto Cardoso de Oliveira rompeu, teoricamente, com a abordagem culturalista que predominava no Brasil na época e, desde a influência da antropologia britânica de Max Gluckman e seus seguidores e a sociologia francesa na África de Georges Balandier, elaborou a noção de “fricção interétnica” (1964) que mudou o foco de análise para as relações sociais entre indígenas e não-indígenas. Esta noção foi explorada por seus primeiros alunos: Julio Cezar Melatti, Roque de Barros Laraia, e Alcida Rita Ramos entre outros, que realizaram pesquisas em etnologia indígena orientadas pela proposta de Cardoso de Oliveira de realizar uma sociologia do Brasil indígena enfocando, sobretudo, o contato interétnico. Esta linha de pesquisa se define como politicamente engajada com os povos estudados. A próxima geração, representada por João Pacheco de Oliveira e Eduardo Viveiros de Castro, resultou no surgimento de duas vertentes na etnologia indígena. João Pacheco de Oliveira e seus seguidores se enredaram por uma antropologia histórica examinando sociedades indígenas no contexto da sociedade nacional. Por outro lado, Eduardo Viveiros de Castro elaborou a abordagem americanista com forte influência neo-estruturalista de Claude Lévi-Strauss e seus seguidores como Philippe Descola na França. No Brasil, Viveiros de Castro e seus seguidores desenvolveram o perspectivismo ameríndio. A diferença principal pode ser distinguida entre a abordagem de uma antropologia histórica que focaliza o estudo dos povos indígenas no contexto do Brasil e, por outro lado, a antropologia americanista que focaliza os povos indígenas do Brasil, focalizando o estudo de aspectos internos de cada sociedade indígena. Além destas duas vertentes, há outros etnólogos que seguem abordagens que mesclam estudos de cosmologia e parentesco e análises do contato interétnico. Nos últimos anos, o ingresso de estudantes indígenas na antropologia vem trazendo mudanças à disciplina com a presença crescente de indígenas antropólogos, o que promete criar novos rumos dentro da disciplina.