As pesquisas etnográficas sobre saúde na América Latina possuem como um de seus eixos centrais o diálogo com o conceito de cuidado, pensado tanto como uma
dimensão constituinte (ou ausente) de certas práticas profissionais, como enquanto experiência cotidiana daqueles que lidam com condições específicas de saúde e
adoecimento em seus diferentes agenciamentos. Trata-se de uma categoria resiliente e em constante disputa teórica e política e que precisa também ser pensada a partir de contextos específicos.
A proposta dessa mesa é explorar de que maneira o debate sobre o conceito de cuidado se estruturou em diálogo com elaborações sobre os processos de saúde e doença, a partir de etnografias realizadas no campo da saúde. Espera-se refletir sobre as especificidades do contexto latino-americano, como também sobre os diálogos estabelecidos com teóricos/as que figuram como centrais no debate sobre o tema, incluindo além da antropologia, os campos da sociologia, filosofia, perspectivas feministas e outras.
Resgatar os caminhos através dos quais a discussão sobre cuidado se conformou na América Latina, revela-se enquanto um exercício central no atual momento, quando nos últimos anos, o tema do cuidado ganhou maior proeminência em todo o mundo após a pandemia de covid-19. Considerando experiências históricas, marcadores sociais da diferença, moralidades, tecnologias, pluralidades terapêuticas e sistemas de saúde distintos, procura-se realizar um aprofundamento nos debates interseccionais que consideram território, nacionalida de, religião, gênero, classe, raça, etnia e outras variáveis nas proposições sobre o cuidado para pensar nos aportes oferecidos desde perspectivas localizadas sobre o cuidado, tensionando conceitos e narrativas hegemônicas.
Esta interação entre saúde, cuidados e interseccionalidades tem possibilitado novos caminhos teóricos, epistemológicos e metodológicos, trazendo discussões situadas em e a partir de contextos particulares e vozes diversas que disputam não apenas sentidos, representações e discursos biomédicos, mas, formas de produção de saúde e cuidados.