Marcelo da Silva Araujo, Brasil, 2019.
A mostra Vitrines de concreto na cidade é uma contribuição decisiva para conhecer o movimento do grafite urbano contemporâneo, uma vez que este marca as grandes cidades do nosso tempo, de norte a sul e de leste a oeste do planeta. É também uma referência importante para discutir a condição dos jovens, seus produtores, na experiência do mundo recente. Há, no grafite de muros, um sentido de resistência social que pode ser caracterizado na sua distinção quanto aos conteúdos ideológicos e partidários dos grupos políticos tradicionais. Assim, é possível aproximar o grafite das cidades de nossos dias do universo da contracultura da década de 1960, quando a busca de valores e costumes alternativos foi encarada como uma forma de contestação radical à ordem dominante. Desse modo, a força do grafite urbano contemporâneo é a polêmica que mantém a sociedade sob interrogação. A associação com o universo da cultura pop garantiu uma base de difusão do grafite urbano não claramente dimensionável, pois se realizou às margens das estruturas da indústria cultural. Essa difusão, responsável pela escala global do movimento, está baseada, sobretudo, numa colaboração associativa de pequenos grupos que emerge na ordem da globalização, o que foi potencializado pelas redes sociais digitais a partir da virada do século XX para o século XXI. O fato é que a força homogeneizadora da indústria cultural globalizada nunca conseguiu se apoderar das estruturas de reprodução do grafite urbano, o que permite caracterizar sua dinâmica como movimento social. Importa sublinhar que a novidade plástica das formas do grafite urbano contemporâneo à base da lata de tinta spray não pode ser compreendida sem reconhecer sua contribuição para a luta pelo direito à expressão da juventude. Para tanto, deve-se compreender as diferenças internas do próprio movimento do grafite urbano contemporâneo, que muitas vezes opõem as suas vertentes. O grafite dos nossos dias revela uma dimensão cultural da globalização que se afirma em torno de novas formas associativas e identitárias. Estas, por sua vez, afirmam a presença dos jovens na cena social. O mais importante, por fim, é que a observação de campo permitiu reconhecer a fala dos sujeitos sociais envolvidos com o grafite urbano contemporâneo, ao mesmo tempo em que revelou os vários sentidos dos grafites nos muros da cidade.